sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

O progresso da Ciência

Era um dia como outro qualquer. O cheiro do café nos copos plásticos impregnava o ar. Todos chegavam, digitavam, criavam ideogramas, mediam, anotavam e sujavam seus guarda-pós – já não tão brancos quanto foram outrora.

Eu diria que o sol demorara a nascer naquele dia, mas de onde eu estava já não podia mais ver o sol. Eu sabia que era dia pelo (re)acontecer das mesmas coisas de todos os dias, dia após dia.

Um grupo chegou perto de mim falando alto e comentando sobre alguma coisa. Alguém me tocou com mais delicadeza do que eu esperava. Pude sentir o calor das mãos humanas através das luvas brancas que acariciavam meus pelos brancos.

Me colocaram em um lugar novo. Era frio lá. Senti um cheiro estranho, ácido, forte, estonteante, inebriante.

Perdi-me no escuro. Rubro, quente, desritmado nas batidas que não batiam mais.

Eu queria saber por que.

Por que não sei o que significa liberdade?

Por que os papais verdes não se transformaram em pedaços de queijo?

Agora um empregado filipino lava o chão. Talvez as partículas de pó também tenham memórias. Talvez alguém tenha dito alguma coisa sobre valer a pena. Talvez tenha sido decifrado um minúsculo caractere do livro da natureza. Talvez alguém tenha chegado mais perto de Deus.

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