sábado, 30 de agosto de 2008

Errar

O sinal do cursinho acaba de tocar, intervalo enfim... Dois colegas se encontram na cantina:
- E ai cara? As inscrições para o vestibular acabaram ontem, né?
- Sim. Agora já era...
- Se inscreveu pra que?!
- História.
- E você vai fazer o que?
- Ser professor, ué...
- Professor?! Nossa cara, por que você não faz algo que te desafie mais? Sabe, me inscrevi pra medicina. Isso sim e profissão. Professor não faz diferença, não instiga, não exige de você. Ser médico sim! Tem que saber o que fazer, não pode ter dúvida, não pode errar. Sabe, tenho certeza que ser médico é a melhor profissão, a mais importante, a mais relevante. Professor, meu?! Não tem nada melhor pra você fazer? Cara, as pessoas confiam nos médicos... já pensou trabalhar sob a adrenalina constante de não poder errar?! Imagina só, se eu errar, alguém morre!
- E se eu errar transformo uma sala inteira de alunos em um bando de médicos.

Ps: Baseado em fatos reais.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Murphions

Por que as coisas sempre somem quando nós as estamos procurando? E já reparou que na maioria das vezes é quando estamos atrasadas? É sempre assim.

Para variar o ônibus pegou trânsito na Marginal Pinheiros e você chegou atrasada em casa. São sete e dez e você tem que estar fora de casa em exatamente vinte e cinco minutos. Ninguém é de ferro, então você mal põe o pé em casa e vai para a cozinha tomar um copo de leite com Toddy (por favor, Toddy é melhor que Nescau... mas isso é assunto para um outro dia). Corre para o banheiro, afinal a idéia de sair com cheiro de freio de caminhão e aroma de Marginal não é lá muito convidativo. O banho tem que ser rápido, já se passaram cinco minutos. Mas já sabe, se não lavar o cabelo, não é banho. Você sai molhada do banheiro e vai assim mesmo, molhando todo o chão até o seu qaurto (não sem dar uma olhadinha no relógio do meio do caminho que te mostra assustadoramente que são sete e vinte e sete). "Ok, bati meu record", você pensa, mas isso não te dá nem um minutinho a mais. Pega o primeiro jeans e blusinha preta (se você nunca reparou, é a combinação mais curinga que existe) que encontra pela frente. Se veste, penteia o cabelo, passa um gloss e creme nas mãos, põe a sandália preta e coloca o celular na bolsa tudo ao mesmo tempo. Pronto, você pensa, são sete e trinta e quatro e estou pronta. É ai que eles entram em ação.

Você começa a procurar a chave de casa e não consegue encontrá-la na porta, na cozinha, na mesa, no banheiro, na bolsa... em qualquer lugar onde você olhar, necas de pitibiribas. Nem a cor do metal da chave.

Eu costumo falar para a minha irmã que são os duendes(rsrsrs)... eles gostam de tirar uma com a nossa cara. Mas esses dias me deparei com uma nova possibilidade: os murphions. Alguém ai os conhece?Os murphions são seres -ou partículas elementares- estranhíssimos e com um senso de humor duvidável. Eles são muito poderosos também. São eles que param o trânsito na faixa da esquerda quando você acabou de passar na frente daquele senhor mal-humorado para sair da direita que não andava. São eles que fazem chover depois de três meses sem chuvas quando você consegue pegar aquele tão esperado fim de semana na praia. São eles que fazem o leite demarrar no exato momento em que você tira os olhos do fogão quando alguém te chama... Ou seja, por que não são os murphions que somem com as coisas quando nós mais precisamos delas?

O final da história? Ah, você já conhece... depois de alguns intermináveis e angustiantes minutos procurando as chaves você as encontra onde nunca pensou em colocá-las. É claro que até ai as sete e trinta e cinco já foram há muito tempo e você ficou - mais uma vez- com a fama de não ser uma pessoa pontual. Tudo culpa dos murphions...

Cartas...

Por que não escrevemos mais cartas? Eu adoro receber cartas, mas o máximo que recebo atualmente são e-mails. Não que eu esteja me lamentando por isso, mas a emoção de ver uma correspondência destinada a mim é única. Eu olhava quem mandou, o endereço, o selo da carta, o carimbo do Correio; ai eu abria a carta e lia e relia vezes sem fim... Depois eu pegava papel e caneta colorida e ia responder àquela carta. Ainda tenho muitas delas guardadas numa caixinha de lembranças.

O fato de escrever cartas não era útil só pela comunicação; escrever sempre acabava nos ensinando a escrever. Sim, é fazendo que se aprende a fazer, certo? Então é escrevendo que se aprende a escrever bem, e é lendo que se aprende a ler.

Falando em cartas, por que é que existem livros "Cartas a um jovem cientista" (Marcelo Gleiser), "Cartas a um jovem político" (FHC), "Cartas a um jovem chef"(Laurent Suaudeau) e muitos mais "Cartas a ..." e NÃO existe "Cartas a um jovem professor"?Todo mundo sabe que o que todo o mundo precisa é de educação. Não só instrução no sentido em que fala Condorcet, mas educação de verdade. Um professor é quem se encarrega disso; em seus atos, em seu modo de ser, em seu modo de falar ele educa. E ninguém se preocupa com o professor...

Sou professora sim, e com muito orgulho! E sou completamente apaixonada pela educação. Escolhi a profissão não para mudar o mundo (porque não sou tão pretenciosa) mas para participar da vida de algumas pessoas, e por que não mudar e deixar que a minha vida seja mudada também?

"Desejaria contemplar um mundo no qual a educação visasse libertar o espírito da juventude e não aprisioná-lo numa armadura de dogmas destinada a protegê-lo, ao longo da sua existência, das flechas das provas objectivas. O mundo tem necessidade de corações abertos, de espíritos francos, e não é por intermédio de sistemas rígidos, antigos ou novos, que se poderão obter." Bertrand
Russes